POLÊMICA ENVOLVE TRANSFERÊNCIA DE MENINA PARA HOSPITAL FORA DE SÃO GABRIEL.

PAI DA MENINA

Vereador Vagner Aloy com o pai da menina

O Rio Grande do Sul perdeu 521 leitos pediátricos ao longo dos últimos seis anos, o que representou queda de 17% nas vagas de internação para crianças e adolescentes de até 18 anos entre 2010 e 2016. O levantamento, feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) a partir do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, inclui leitos próprios e conveniados, e preocupa especialistas. De acordo com a chefe da UTI pediátrica do Hospital Santo Antônio e médica da Sociedade de Pediatria do RS (SPRS), Cláudia Ricachinevsky, o reflexo dessa situação é um número cada vez maior de crianças em lista de espera para serem atendidas — muitas delas em situação grave. A informação foi divulgada pela Jornal Zero Hora, em março deste ano.
No Estado, existe uma central de leitos que atualiza a lista de pacientes todos os dias. Conforme a especialista, “são pacientes principalmente do Interior que precisam ser transferidos para Porto Alegre pela falta de vagas em outras cidades. Todos os dias recebo cerca de quatro solicitações para pacientes pediátricos, e esse número chega a dobrar no inverno. Essa lista foi aumentando ao longo dos últimos anos”.
Os familiares de quem está na lista de espera “batalham”, de todas as maneiras, para conseguir agilizar o processo. Casos que constam criança ou adolescente em grupo de transferência prioritária revelam que o paciente precisa de atendimento especializado, que geralmente se encontra em hospitais de Porto Alegre e outras cidades referência.
Mas nem sempre é assim. Em São Gabriel, no final de semana, o caso de um recém nascido de apenas 17 dias gerou polêmica. A menina teve o seu nome incluído numa lista de espera por leitos fora do Município, mas por causa da situação de saúde, os pais acenaram com a possibilidade de pedir a transferência via judicial.
O Vereador Vagner Aloy (Maninho), do PSDB, pediu um laudo para agilizar o processo, mas acabou se desentendendo com o médico responsável pelo atendimento. O profissional teria, inicialmente, se recusado a fornecer o documento. Depois, disse que liberaria após uma hora. Isso aconteceu com a presença da mãe da criança, só que tanto o parlamentar, quanto os pais da menina denunciaram destratos feitos pelo médico do Pronto Atendimento 24h. O vereador disse que acabou sendo expulso do PA.
O caso terminou bem para a criança. Ela foi transferida para Porto Alegre após a Santa Casa tentrar em contato com o Secretário Municipal de Saúde, Ricardo Coirolo. “O Coirolo conversou com o Secretário de Saúde de Porto Alegre (Erno Harzheim) e, através dele, conseguimos vaga para a menina no Hospital de Santa Casa da Capital”, argumentou Aloy.
FATO ESTRANHO
O médico do PA disse que o caso não era de urgência. Mas, se não era de urgência, por que ele pediu a transferência para outra cidade? O questionamento foi feito pelo vereador.
É preciso pressionar. Lutar pelos direitos.
“A criança estava aguardando na central, sem previsão. Fui lá, peguei as informações e pressionei. Após tudo isso, houve agilidade, tanto é que o médico entrou em contato com o Secretário Municipal e o secretário prontamente levou o caso ao secretário do estado que resolveu”, argumentou. “Resumindo: temos que ir pressionar para a coisa andar”, finalizou.
NO MUNICÍPIO
Já a questão envolvendo o atendimento continua aberta. O vereador disse que vai fiscalizar a atuação do profissional na rede básica de saúde e saber se o médico cumpre os horários estabelecidos na grade nas Unidade Básicas de Saúde. Quanto ao procedimento dele, no PA, o parlamentar disse que encaminhará denúncia a Provedoria do Hospital de Santa Casa de Caridade.
SOBRE OS LEITOS NO ESTADO
De acordo com o levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em 2010 o Estado possuía 3.660 leitos pediátricos. Em 2016, o número caiu para 3025. Destes, 2.909 eram do SUS, e hoje são 2.388. Ou seja, todas as vagas fechadas no Estado foram do SUS. Segundo Cláudia, outra situação que aumentou a defasagem de leitos para pacientes pediátricos foi uma mudança nas diretrizes do Ministério da Saúde, que até pouco tempo permitia a internação de crianças em UTI neonatal. Hoje, esta área é restrita para recém-nascidos.
Apesar de crítica, a situação do RS não é tão grave como a de outras regiões do país. Na média nacional, a queda no número de leitos foi superior a 20%. Entre 2010 e 2016, mais de 10 mil leitos de internação em pediatria clínica foram desativados na rede pública. Em números absolutos, os Estados das regiões Nordeste e Sudeste foram os que mais sofreram redução no período. Santa Catarina teve uma queda de 34% no número de leitos durante o mesmo período, e São Paulo, de 24%.
Em relação às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais, faltam no Brasil 3,2 mil leitos, segundo parâmetro da Sociedade Brasileira de Pediatria. A presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, também atribui a situação à falta de investimento do Ministério da Saúde na área.
Fonte: Zero Hora